sábado, 31 de janeiro de 2015

CAPÍTULO 3- O QUE É O AMOR?

“ Ana, me perdoe. Não pude ir ao seu encontro. Você me amedrontou!!  Cada vez que via o seu sorriso, eu tinha as melhores lembranças, mas também, as piores recordações de mim. Não sou o homem que imaginas, não sou quem deves amar. Já sofri muito por amor, porém, já fiz muitas pessoas sofrerem por mim. E hoje, vejo que iria te fazer sofrer também. Não estou preparado para uma mulher cujo o primeiro amor seja eu, não quero te desapontar, muito pelo contrario, mas procure ser feliz longe da ideia de um nós. Me perdoe”.

E era isso que o bilhete escrito a punho por Seu Paulo estava dizendo para Ana. Alçar voo sem olhar para trás, fazer com o seu caminho seja desviado de todos os planos que ela havia traçado de um dia para cá.

Ainda estática Ana procura entender as palavras de outra maneira, uma maneira que a fizesse desacreditar no que leu. Mas foi impossível, mais claro que essas palavras somente escutando da própria boca do Seu Paulo tais palavras. Ainda sem saber direito o que tinha acontecido, Ana se levanta e sai andando pelas ruas. Tudo parece ter perdido o sentido, perdido a lógica.

- Como isso pode acontecer? Será que errei em querer amar uma pessoa que me quis bem desde o começo? Porque eu odeio amor agora, se foi ele que me fez sorrir?

Com tantas perguntas sem respostas em sua cabeça, Ana se aproxima de um parque repleto de crianças brincando com seus amigos, e ainda com os olhos mareados de chorar, senta-se em um banco ao lado de uma senhora que estava tricotando, o que aparentemente, seria um xale.

- Boa tarde – disse a senhora

Um silêncio entre as duas aconteceu, não porque Ana não quisesse responder- tá, também por isso, mas não só por isso-, mas porque ela não havia escutado o que a senhora havia lhe dito. Mesmo sendo ignorada, a senhora persistiu e pressentiu o que estava acontecendo:

-Sabe menina, quando eu era nova acostumava a acreditar em príncipes encantados, em homens que me viessem me salvar da amargura da vida – disse rindo a senhora enquanto tricotava- Quando tinha meus vinte e tantos anos mesmo, me apaixonei perdidamente por um rapaz. Ele era lindo, alto, tinha um sorriso encantador, sabe aqueles atores de novela? Então, era um Deus para mim. Mas, não foi quem eu esperava que fosse ser para mim.

Ana então começa se mostrar interessada e pergunta a senhora:

-Desculpa, mas sem querer parecer intrometida, porém, o que aconteceu entre vocês?

- Sabe o que acontece menina? As pessoas mudam. Nada do que você imagina é. A flor espera até a primavera para mostrar a sua beleza, antes disso, seu esplendor está escondido apenas esperando o momento mais oportuno para fazer alguém sorrir. E é isso que as pessoas são. Oportunas. Elas nos laçam e nos carregam em seus sorrisos, e depois nos assopram para longe, como se nada tivesse acontecido. O amor pode ser mais traiçoeiro do que imagina minha querida, só a vida irá lhe mostrar isso.

Depois de ouvir as sábias palavras da senhora desconhecida, Ana resolve abrir seu coração em um grande monólogo:

- Sabe senhora, por muito tempo fui feliz sozinha e acreditando que a felicidade somos nós que construímos independente de possuir alguém ao nosso lado. Mas existem momentos, na maioria das vezes os mais difíceis, que nos mostram o quanto um abraço e um beijo mudariam nosso mundo. Vivi todos esses anos acreditando que o amor era pra ser conquistado na sutileza, no sorriso, até mesmo no acaso. Mas hoje recebi um atestado de que nem tudo é o que parece ser. Nem minha rotina que tanto me fazia bem, hoje me alegra. As coisas perderam a graça, a cor. Não sei se vivi esperando demais das coisas que nunca tive, ou se o mundo me trouxe mais do que precisava. Só queria entender porque essa dor me consome tanto, porque essa solidão tomou o lugar da minha alegria.

A senhora ouvindo tudo atentamente, para de costurar e lhe fala:

- Menina bonita, nem sempre o que precisamos é de respostas. As vezes nós temos as respostas e não queremos enxergar. A solidão é um estado, e não uma condição faça dela sua aliada, faça dela sua força. Ou você acha que nunca sofri na vida? Sou viúva duas vezes, já fui magoada e já magoei muita gente. São desses tropeços que nosso coração é feito, ainda mais, a nossa capacidade de amar. Erga a cabeça e não se abale seus pés vão te dizer para onde ir.

Ana reflete sobre as palavras da senhora desconhecida e se levanta. Ao se levantar e simular um passo, ela olha para trás e fala:

- Não sei seu nome, mas sinto que temos algo em comum. Obrigado senhora.


Ana então toma seu rumo de volta para sua casa. Passando batida pelos jardins, igrejas e pôr do sol. Pensando nas coisas ditas, nas suposições e expectativas criadas. Tudo ainda confuso, e ao chegar em casa, debaixo do chuveiro, Ana só tinha uma certeza, que acabou de ganhar de si mesma um lindo vestido.

Autor: Cristian Schröder

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