terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Monólogo III



Deixa ficar assim, tudo é bom quando se olha para o lado e percebe que a mão está dada com o eterno. Nem sempre rezamos os credos e as orações quando desejamos alcançar o milagre; às vezes ele apenas acontece, apenas aparece.

No insolúvel, a crosta reflete o riso, o brilho, o massivo e o necessário. Tudo sonhado como era de ser realizado. Engraçado como a paleta desenha as notas; como o lápis cria uma memória; como o acaso retrata e tatua a esperança.

No verde encontrei o azul. Não um simples azul, o seu azul. Paradoxalmente, encontrei o que nunca perdi, ou seja, aquilo que nem sabia da existência. De uma forma ou de outra, sou grato, apenas grato.
Grato por me olhar, por me notar, por me viver e saber ser você, nú eu.
Gratidão retomada por cada gesto colocado em mesa, servido em panelas comuns, sem garfos, apenas o seu prato. Degustar da sua beleza e deglutir da tua paixão é uma das profundidades na qual mergulhei, me afoguei e vivi. Transbordado e encharcado de tudo que lhe ronda.

Mão em coxa, olhar em boca. Tudo estalando como um remédio ao sair de sua cartela. Em minha mão, te tomo como um antibiótico, sem prescrição e sem nenhum conhecimento válido.
Nos primórdios eu quis, hoje, eu sou.

Grato, de fato, hoje e eterno... o meu muito obrigado !

Autor: Cristian Schroder

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Monólogo II

O que preciso não é de dinheiro, não é de liberdade, não é de transparência. O que preciso mesmo é de vento, pois às vezes, a vida só precisa de leveza para se tornar mais concreta aos nossos pés. Sei que falho, que ando que respiro as eternidades, mas quem disse que quero que minhas tolas palavras sejam imortais? 

Quero que a leveza as leve para longe, para onde o eco termina com a última vogal. Mas quando o som da última vogal chegar ao fim calar-me-ei para sempre! Se me calarei, minhas palavras de nada adiantam se de nada adiantam, porque insisto em ser, e não em estar?

Não, não quero mais leveza, quero mesmo é liberdade! Mas, se tenho liberdade, porque me escondo através de palavras, metonímias e metáforas compradas? Não, também não quero liberdade, eu quero mesmo é transparência! Não, ser límpido e insípido é muito chato, bom é se travestir de alegorias alheias para dar gosto em viver. Já sei, quero então dinheiro, muito dinheiro. Para que dinheiro, se não tenho bocas para agregar a ele ?

Dilema de vida. Mais complicado que passar por uma casa de chocolate e não comprar um para satisfazer meu desejo de amor interno. Está ai, já sei do que preciso. Amor! Do mais pegajoso, claro e nítido amor. Mas se um dia ele acabar? Ficarei derramando lágrimas por alguém que sorri para um outro alguém que depois derramará lágrimas por um outro alguém que sorriu para outra pessoa, e que essa pessoa de ser eu ? vitimado mais uma vez pelo amor que as lágrimas derramaram por esse riso amarelo e devastador ?

Não sei o que quero, não sei o que espero. Sei que quero viver, sem medo de morrer, de comer, de criar e respirar. Talvez essa seja graça da vida. Satisfazer seus desejos, mesmo sabendo que são eles quem te move.


Autor: Cristian Schroder

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Monólogo I

Vagarosamente o tom da música aumenta, meus passos aumentam, a cortina se abre e meu ato se inicia apenas com um olhar sob a luz que reluz meu texto já desconhecido por meus olhos. A garganta se amarra e minha boca cede... Sede da noite, sede da luz, sede de me transportar para a imensidão dos astros. Quantas luzes existem nesse ano? Quantas vias teu peito flamejado em lácteas derramadas possui?
A lágrima cai, o cenário se choca como um vagão de trem em seu trilho enferrujado. Não entoo canção, não peco pela razão. Ando devagar, sentindo a pressa possuir os meus quereres. Não mais olho para o futuro, sempre ando para trás.
O que sou? O que minha mente se tornou? Meus olhos recaem e tudo de repente fica negro. Negro como um escravo, negro como o meu pé descalço... Não enxergo um palmo à minha frente mesmo sabendo que nunca enxerguei mesmo podendo.
A tristeza me corrói, a angústia me compõe. Com letras de Buarque, meu coração verossímil se acalanta como ladrões se alegram com o luar cada vez mais tardio.
De frente ao espelho, vejo a luz do sol começando a se fragmentar pelo meu corpo. Corpo  que perdi para a lembrança maciça daquilo que era, mesmo sabendo que o passado é apenas uma questão de lembrar, não de juntar os fatos em um só. Minha roupa mentia sobre meu rosto. Meu semblante mentia sobre minha roupa. Eu não passo de uma mentira.
As cicatrizes, todas as fotos, todos esses risos e cartas de amor... Tudo não se passa de uma mentira. Mentiras as quais me lavaram a alma e regaram o meu jardim de ilusões, que sempre esperava em si, um pequeno pássaro para disseminar meus frutos por outros jardins.
Como um cigarro que encurta a cada tragada, meu desejo era de que a morte viesse à galopes, mas à galopes curtos e macios, para que minha íris se pintasse de negro aos poucos. Para que pudesse sentir meu angustiado coração, parasse de bater para sempre.
Sempre... Estado de um instante.
Instante esse que se prende na memória pelo eterno.
 A vida é tão mais bela deste lado, porque não morrer de medo? Porque esse medo de morrer?
Mas isso, só eu poderei saber.


Autor: Cristian Schröder