sábado, 1 de fevereiro de 2014

Monólogo I

Vagarosamente o tom da música aumenta, meus passos aumentam, a cortina se abre e meu ato se inicia apenas com um olhar sob a luz que reluz meu texto já desconhecido por meus olhos. A garganta se amarra e minha boca cede... Sede da noite, sede da luz, sede de me transportar para a imensidão dos astros. Quantas luzes existem nesse ano? Quantas vias teu peito flamejado em lácteas derramadas possui?
A lágrima cai, o cenário se choca como um vagão de trem em seu trilho enferrujado. Não entoo canção, não peco pela razão. Ando devagar, sentindo a pressa possuir os meus quereres. Não mais olho para o futuro, sempre ando para trás.
O que sou? O que minha mente se tornou? Meus olhos recaem e tudo de repente fica negro. Negro como um escravo, negro como o meu pé descalço... Não enxergo um palmo à minha frente mesmo sabendo que nunca enxerguei mesmo podendo.
A tristeza me corrói, a angústia me compõe. Com letras de Buarque, meu coração verossímil se acalanta como ladrões se alegram com o luar cada vez mais tardio.
De frente ao espelho, vejo a luz do sol começando a se fragmentar pelo meu corpo. Corpo  que perdi para a lembrança maciça daquilo que era, mesmo sabendo que o passado é apenas uma questão de lembrar, não de juntar os fatos em um só. Minha roupa mentia sobre meu rosto. Meu semblante mentia sobre minha roupa. Eu não passo de uma mentira.
As cicatrizes, todas as fotos, todos esses risos e cartas de amor... Tudo não se passa de uma mentira. Mentiras as quais me lavaram a alma e regaram o meu jardim de ilusões, que sempre esperava em si, um pequeno pássaro para disseminar meus frutos por outros jardins.
Como um cigarro que encurta a cada tragada, meu desejo era de que a morte viesse à galopes, mas à galopes curtos e macios, para que minha íris se pintasse de negro aos poucos. Para que pudesse sentir meu angustiado coração, parasse de bater para sempre.
Sempre... Estado de um instante.
Instante esse que se prende na memória pelo eterno.
 A vida é tão mais bela deste lado, porque não morrer de medo? Porque esse medo de morrer?
Mas isso, só eu poderei saber.


Autor: Cristian Schröder

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