sábado, 17 de setembro de 2011

Um cigarro e Um Monólogo Qualquer


Quando tudo se faz perdido, a saudade pesa em sua frieza, retalhando os panos rasgados de uma alegria já usada .
Costuro em boca a gargalhada comprada em uma vitrine morta qualquer, para ensaiar de frente ao espelho, a fala que irá sair da minha garganta, para te convencer do meu “ Eu Te Amo ” sujo e barato .
Apago meu cigarro no cinzeiro entupido de restos, para por meu sapato comprado com o suor de minhas pernas, minhas tão lindas e grossas pernas, que você gosta de passear e saborear constantemente. Coloco meu melhor vestido, curto como sempre. Incrível como simples mulheres pagam fortunas por um vestido como esse, apenas um pedaço de pano valorizado por uma etiqueta fabricada em um país sub desenvolvido . Depois de três ou quatro pinceladas de maquiagem, escondo o rosto da inocente e falecida garotinha, dando espaço para a mulher que tudo quer conquistar.
Ao sair pelas ruas para ir de encontro a você, meu perfume exala pelo meu pescoço, tomando conta dos lugares por onde me encosto. Não se estranhe se seu filho estiver com um aroma parecido com o meu e com o seu .
No café de sempre, seu carro importado, com um cavalo amarelo como símbolo, para ao meu lado para que eu possa entrar .
Ao sentar no banco de couro desse automóvel tão caro, namoro pelo retrovisor o floricultor que um dia já cuidou do meu jardim com todo carinho e dedicação, regando com sua mangueira a grama que insiste em ser aparada dia após dia .
Enquanto você dirige, faço questão de contar minhas verdades mais dissimuladas que ensaiei durante o dia, para fazer com que sintas pena de uma mulher que apenas quer o que está no seu bolso de trás .
Alguns me chamam de vagabunda, outros de puta ... Seja lá qual for o termo prejorativo que irá me chamar, saiba que não ligo, confio em meu cérebro acima de qualquer outro órgão aqui neste monólogo citado.
Ao chegar no seu flat muquirana, o sorriso de satisfação dá lugar a um semblante de nojo e indiferença . Como alguém com tanto dinheiro, pode morar em um lugarzinho em um bairro comum como este ? .
Bom, o que realmente me interessa, é saciar minha sede de prazer, enquanto dissimulo meus orgasmos múltiplos com seu pequeno brinquedinho que mal sinto entra e sair de mim .
Enquanto soas para tentar me dar prazer, gemo alto para te incentivar enquanto aguardo ansiosamente para o fim de tudo isso .
Depois de longos 45 minutos, me levanto e tomo meu banho, solitária, óbvio; já basta ter me deitado 45 minutos com alguém que nem me fez saber quando o ato começou e terminou .
Ao voltar para o quarto, me componho devagar, e espero a recompensa pelo serviço de encenar dois orgasmos sem precisar mover um músculo . Recebo meu dinheiro e saio pela mesma porta que entrei, quase da mesma maneira, porém, dessa vez, com sete peixinhos a mais no meu aquário .
Recompensa essa ganha por ser a mulher que todos vocês homens desejam ter e nunca tiveram a oportunidade de conhecer.
Recompensa, para dar prazer a um ser deplorável chamado homem, que paga um pedaço de carne como eu, dentro de um vestidinho barato, para satisfazer todas as suas vontades.
Recompensa essa, ganhada por ser mais racional que emocional, deixando mais uma vez, o homem como o idiota enganado .
Chego em casa e me sento de frente ao espelho. Descosturando fio por fio de minha boca, tirando pincelada por pincelada do meu rosto, mostrando quem realmente eu sou. Uma mulher como qualquer outra, que sofre, que ama, que tem problemas e que tem ambição de subir na vida.
Por um acaso do destino, parei em via dupla, dando preferência ao dinheiro rápido e sem esforço, apenas para fingir prazer . Prazer este que não sei mais sentir, que não sei como fazer para sentir.
Prazer este que já acho que perdi .
Agora deito-me na cama, apago seu nome da lista, elimino seu rosto, para amanhã, voltar a costurar uma face de boneca em meu rosto, para enfim, dar prazer a um estranho qualquer.
Boa Noite .

Autor: Cristian Schröder

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