segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Sem título ... [ Parte II ]


No fundo da viatura do exército alemão, me deparo com outras mulheres e algumas crianças, que assim como eu, estão assustadas e inseguras do seu destino final.
A viatura começa a andar, enquanto percorre o caminho que não sei onde irá dar, procuro me cobrir com os sacos de arroz que nos serviam como cobertores durante essa viagem inesperada.
Agachada em um canto apertado e quente, começo a lembrar de meus filhos, entro em desespero em saber que eles estão sofrendo e eu nada posso fazer.
Enquanto choro e me pergunto porque isso foi acontecer logo comigo, sinto uma mão leve e enruga tocar meu rosto, olho para cima, e vejo o olhar sofrido de uma senhora, que assim como eu sofreu nas mãos do exército vermelho.
Com suas sábias palavras ela me disse :
-” Não há o que temer, o destino está traçado, o fim está próximo.”
Assustada, abaixe minha cabeça e me pus a chorar novamente.
Se passaram dois dias, e minha aflição aumenta a cada segundo que passo dentro desta viatura. Sem comer e sem beber uma gota que seja de água, me sinto mais fraca do que já estava.
De repente, escuto o freio sendo acionado pelo motorista, que pede autorização a outro soldado para entrar no campo de extermínio .
Todos começam a gritar desesperados, sem saber o que fazer e como agir. No meio da confusão eu olho a senhora que me dirigiu as velhas e sábias palavras e abraço, mesmo em conhece-La direito, sei que ela é tão merecedora quanto eu de viver, talvez seja o último abraço de nossas vidas, mais será um abraço sincero e emocionado.
Ao abrir a porta dos fundos da viatura, os soldados nos pegam e nos jogam para o lado de fora do carro como se fossemos bichos, nos jogando no chão e nos chutando cada vez que gritássemos de dor e agonia .
Após uma sessão de tortura nos flagelando aos poucos, separaram crianças, de mulheres e de homens. Em uma fila organizada pelos soldados, lá estava eu, a penúltima da fila, rezando para que um milagre acontecesse para que não precisa-se morrer para salvar a vida dos meus filhos.
Uma respiração, era a certeza de um segundo a menos de vida. Aos poucos, os soldados jogavam um corpo dentro daquela fogueira, víamos morrer de perto, pessoas que ajudaram a reerguer aquele país após a primeira guerra, pessoas que serviam de exemplo para nós, que por causa de sua etnia estão sendo pré julgados e executados como um animal em meia a caça desordenada.
Agora, sinto de perto o que meu marido passou segundos antes de morrer, esta angústia que toma meu peito, uma vontade de chorar e sair correndo daqui, não quero morrer desta forma, é muito dolorosa para mim. É injusto fazer isso com uma pessoa que fez mau nenhum para o estado.
‘ “Meu marido, onde quer que estejas, me proteja, me salve deste martírio que estou prestes a ser exposta, me deixe viver e educar nossas crianças como prometi a você !”
A fila anda, e minha inquietude e angústia aumentam a cada passo dado, a cada baforada quente do fogo perto da minha pele ressecada pelo desgaste de tudo aquilo, que estava passando.
E de uma coisa tinha certeza, que a morte estaria bem próxima de mim .

Autor : Cristian Schroder

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